terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sobre as eleições e a bolinha de papel

No início do dia eu dou uma olhada em alguns sites de notícias, leio as matérias que me chamam atenção, especialmente as que se referem à eleição. Eu também gosto de assistir ao horário político e aos debates. Confesso que às vezes fico inojada com promessas que são compra de votos disfarçadas e ataques pessoais desnecessários.Mas eu evito a Veja e a Folha de São paulo, que são do mesmo grupo da Globo, porque esses veículos são parciais.

Eu era assinante da revista Veja no período da última eleição presidencial, em que Lula foi leito para o segundo mandato.Como professora, mestre em linguística, cuja linha de pesquisa foi a análise do discurso de linha francesa, me sinto apta a avaliar as intenções que o texto apresenta. No caso da veja eu nem precisava fazer muito esforço. As capas eram absurdamente parciais.As manchetes - a escolha do vocábulário - sempre negativas quando se tratava do Lula e sempre positivas ao tratar do adversário; as cores escuras, nebulosas, para Lula e alegres para Alkmin. Não gostei da postura adotada e cancelei a assinatura. Fiz questão de dizer qual foi o motivo.

Eu não espero, e nem quero, que a revista defenda esse ou aquele candidato, mas o mínimo de parcialidade significa respeito ao leitor. Falta isso para uma revista que se pretende respeitada. A folha, na minha opinião, faz igual.Mas hoje resolvi dar uma olhadinha nesse jornal (online) só para ver a avaliação do debate de ontem na Record. E não é que o Dimenstein escreveu se perguntando sobre "quem é Serra?" Não à toa haviam vários comentários de pessoas tão surpresas como eu.

O texto que eu mais gostei entretanto é o do Valdo Cruz, para o qual faço questão de abrir um espaço, já que vem ao encontro do post que fiz aqui no blog sobre o caso da bolinha de papel (se puderem, leiam os comentários ao texto lá no site da Folha - os negritos são meus):



Os dividendos da bolinha de papel!

Pois bem, enquanto o PT mantém suas alfinetadas em José Serra por conta da "bolinha de papel" no Rio, o PSDB deletou a história de seu programa de TV. Sabe por quê? Porque ganhou mais pontos a versão petista de que o incidente foi uma farsa do tucano. Ou seja, o episódio, no fim, estava rendendo mais dividendos eleitorais a Dilma Rousseff do que ao tucano. Pesquisas dos dois lados mostraram essa tendência do eleitorado.

Enfim, o resultado eleitoral do incidente acabou sendo um desserviço à vida política do país. Pelo visto, valeu a pena, para sua candidata, o presidente Lula atacar o tucano José Serra por uma suposta simulação, sem fazer restrições às agressões entre petistas e tucanos. De quem governa o país, o que se espera é equilíbrio e condenações a atos de violência. Não estímulo, ao estilo líder partidário, como fez indiretamente o petista.

O fato é que as pesquisas petistas mostraram que Dilma teria crescido ainda mais nos últimos dias, abrindo uma liderança confortável em relação a José Serra. E um dos motivos desse crescimento seria o que grupos de eleitores teriam classificado como uma "vergonha", a suposta farsa de Serra.

Do lado dos tucanos, os levantamentos internos estariam indicando que a distância entre os dois candidatos é menor do que apontam os principais institutos de pesquisa. Reservadamente, porém, não negam que o episódio da "bolinha de papel" não rendeu os dividendos eleitorais esperados.

Quanto ao episódio, o fato é que, pelas imagens disponíveis, não é possível tirar conclusão definitiva. Não dá para garantir qual versão está correta. Se a da simples "bolinha de papel" quicando levemente na cabeça de Serra ou a de uma fita crepe que teria causado maior impacto no tucano. Do ponto de vista visual, a cena da bolinha de papel tem mais apelo e serve mais ao jogo eleitoral. A da fita crepe não tem a qualidade da outra.

O problema é exatamente esse. A discussão parece ter ficado restrita à bolinha de papel e à fita crepe. Tudo o que aconteceu em volta, de repente, parece ter desaparecido, não ter existido: os empurrões, agressões, as disputas físicas entre militantes petistas e tucanos, um belo mau exemplo de campanha eleitoral. Sem condenações daqueles que deveriam dar o bom exemplo.

O fato é que, no momento, os tucanos estão em busca de um fato capaz de propiciar uma virada na reta final da campanha, que termina no próximo domingo. A mudança de humor no final do primeiro turno, frustrando as expectativas petistas de liquidar antecipadamente a eleição, indica cautela em qualquer análise. As próximas pesquisas darão o caminho da tendência do voto. Daqui até o final da eleição, teremos praticamente uma pesquisa por dia. A conferir.

(Valdo Cruz, 48 anos, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia.)

Um comentário:

  1. Minha florzinha...
    Qual o limite entre a política e a ética?
    Será que sempre serão misturas heterogêneas?
    Será que realmente "Os fins justificam os meios"? Onde está a moral?
    Segundo VÁZQUEZ (1992), moral expressa "um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento individual dos homens".
    Onde está a moral dos 47% dos votos válidos..., acho que está num rolo de fita adesiva.

    Beijos.

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