quarta-feira, 5 de maio de 2010

Crack, uma epidemia

Assisti ao Profissão Repórter de ontem porque o tema me chamou atenção. Desde que tive a triste experiência de conviver com um dependente químico, qualquer reportagem, documentário etc, que trata do assunto me interessam. É um misto de curiosidade e como que a possibilidade de compartilhar aquilo que passei. As histórias que assisti parecem muito piores doque aquela que presenciei, mas tão doloridas e decepcionantes quanto: ver um homem que teria tudo para ter uma carreira brilhante, que tinha uma boa casa, uma família, uma esposa, trocar tudo pelo vício do crack. É impossível para qualquer um que não seja dependente imaginar uma situação dessas.

Eu me vi naquela reportagem, acompanhando meu ex-marido a clínicas, indo visitá-lo, acreditando em cada uma das vezes que aquela seria a última. Não desejo a ninguém ser ou ter em sua família um dependente químico.

Quando me separei, porque me neguei a descer ao fundo do poço com ele, evitava dizer às pessoas as razões da separação. Achava que deveria preservar a mim e a ele, mas no fundo acho que havia um pouco de vergonha aí, de medo de ser julgada egoísta e de evitar de ter que responder perguntas como “Mas você não sabia que ele usava drogas?”, “ Você não percebeu nada?”. Hoje não tenho mais pudores e nem medo. Não me envergonho de dizer que, embora soubesse que ele era dependente químico em recupeação na época do casamento, não tinha a real visão da situação; que eu acreditava que no momento em que uma pessoa dizia que não usava mais drogas isso seria suficiente. Não tinha noção de o quanto é difícil largar o vício quando se está convencido da necesssidade disso e muito menos quando só se dispõe a fazê-lo por vontade de outras pessoas. O resultado se viu no programa: fugas, desistências, recaídas... Sorte minha não ter vivido com ele o bastante para ver minhas coisas sumirem de dentro de casa (embora tenha sido roubada algumas vezes e só muito tempo depois ter juntado os fatos), nem passar por agressões físicas, nem vê-lo cometendo crimes e sendo preso, como muitas esposas e mães têm visto.

Tenho muita pena dessas pessoas, mas muito mais de suas famílias. Compreendo perfeitamente as mães que desesperadas amarram seus filhos, criam celas dentro da própria casa e mesmo chegam a matar seus próprios filhos para se defenderem ou tentar protegê-los.

O que se vê hoje é uma situação de calamidade pública causada pelas drogas, principalmente pelo crack. Uma situação que deveria ser tratada como se tratam as demais epidemias, com ações duras, conjuntas e eficazes. Mas barrar o crack vai muito além de tratar da dependência. Basta pensar na situação de uma das usuárias entrevistadas que disse : “Meu filho tá com minha mãe. Ela fuma pedra desde os 15. meu pai chera farinha, meu ex-marido (ou irmão, não lembro) tá preso” . Como uma pessoa dessa vai cogitar voltar para casa, e como vai largar o vício se não tem nenhuma perspectiva?

Embora saibamos que o crack não está apenas nas camadas pobres da população, é necessário tratar a sociedade. Isso passa por moradia, emprego, saúde, estrutura familiar, condições dignas de vida, educação e oferecer perspectiva de vida às pessoas, combate ao crime. Um trabalho árduo e a longo prazo que chega a parecer impossível de ser concretizado. Até que isso um dia aconteça, muitas histórias dramáticas ainda irão acontecer, muitos jovens irão morrer, muitas famílias serão destruídas, infelizmente.

Um comentário:

  1. Nossa que historia, eu tbm me vi nela, tenho 2 dependentes na familia imagino sua luta, tbm luto pra tirar meu primo do vicio. Mas precisa que ele diga NÃO antes. Na verdade a culpa não tem pai todo mundo tem sua fatia no bolo, mas não sou eu quem vou julgar. É necessário dizer não, isso já ajuda.

    Crack é sinônimo de desespero.

    Meus sentimentos a todos que vive ou viveu alguma historia parecida.

    Sucesso Ari.

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