Assisti ao Profissão Repórter de ontem porque o tema me chamou atenção. Desde que tive a triste experiência de conviver com um dependente químico, qualquer reportagem, documentário etc, que trata do assunto me interessam. É um misto de curiosidade e como que a possibilidade de compartilhar aquilo que passei. As histórias que assisti parecem muito piores doque aquela que presenciei, mas tão doloridas e decepcionantes quanto: ver um homem que teria tudo para ter uma carreira brilhante, que tinha uma boa casa, uma família, uma esposa, trocar tudo pelo vício do crack. É impossível para qualquer um que não seja dependente imaginar uma situação dessas.
Eu me vi naquela reportagem, acompanhando meu ex-marido a clínicas, indo visitá-lo, acreditando em cada uma das vezes que aquela seria a última. Não desejo a ninguém ser ou ter em sua família um dependente químico.
Quando me separei, porque me neguei a descer ao fundo do poço com ele, evitava dizer às pessoas as razões da separação. Achava que deveria preservar a mim e a ele, mas no fundo acho que havia um pouco de vergonha aí, de medo de ser julgada egoísta e de evitar de ter que responder perguntas como “Mas você não sabia que ele usava drogas?”, “ Você não percebeu nada?”. Hoje não tenho mais pudores e nem medo. Não me envergonho de dizer que, embora soubesse que ele era dependente químico em recupeação na época do casamento, não tinha a real visão da situação; que eu acreditava que no momento em que uma pessoa dizia que não usava mais drogas isso seria suficiente. Não tinha noção de o quanto é difícil largar o vício quando se está convencido da necesssidade disso e muito menos quando só se dispõe a fazê-lo por vontade de outras pessoas. O resultado se viu no programa: fugas, desistências, recaídas... Sorte minha não ter vivido com ele o bastante para ver minhas coisas sumirem de dentro de casa (embora tenha sido roubada algumas vezes e só muito tempo depois ter juntado os fatos), nem passar por agressões físicas, nem vê-lo cometendo crimes e sendo preso, como muitas esposas e mães têm visto.
Tenho muita pena dessas pessoas, mas muito mais de suas famílias. Compreendo perfeitamente as mães que desesperadas amarram seus filhos, criam celas dentro da própria casa e mesmo chegam a matar seus próprios filhos para se defenderem ou tentar protegê-los.
O que se vê hoje é uma situação de calamidade pública causada pelas drogas, principalmente pelo crack. Uma situação que deveria ser tratada como se tratam as demais epidemias, com ações duras, conjuntas e eficazes. Mas barrar o crack vai muito além de tratar da dependência. Basta pensar na situação de uma das usuárias entrevistadas que disse : “Meu filho tá com minha mãe. Ela fuma pedra desde os 15. meu pai chera farinha, meu ex-marido (ou irmão, não lembro) tá preso” . Como uma pessoa dessa vai cogitar voltar para casa, e como vai largar o vício se não tem nenhuma perspectiva?
Embora saibamos que o crack não está apenas nas camadas pobres da população, é necessário tratar a sociedade. Isso passa por moradia, emprego, saúde, estrutura familiar, condições dignas de vida, educação e oferecer perspectiva de vida às pessoas, combate ao crime. Um trabalho árduo e a longo prazo que chega a parecer impossível de ser concretizado. Até que isso um dia aconteça, muitas histórias dramáticas ainda irão acontecer, muitos jovens irão morrer, muitas famílias serão destruídas, infelizmente.
Nossa que historia, eu tbm me vi nela, tenho 2 dependentes na familia imagino sua luta, tbm luto pra tirar meu primo do vicio. Mas precisa que ele diga NÃO antes. Na verdade a culpa não tem pai todo mundo tem sua fatia no bolo, mas não sou eu quem vou julgar. É necessário dizer não, isso já ajuda.
ResponderExcluirCrack é sinônimo de desespero.
Meus sentimentos a todos que vive ou viveu alguma historia parecida.
Sucesso Ari.