quinta-feira, 1 de abril de 2010

Três anos depois




Três anos se passaram, mas as lembranças continuam vivas como se tudo tivesse sido ontem...Como esquecer do dia em que fomos separados para sempre?
Tenho tanto medo de esquecer do teu sorriso, do teu jeito de falar quase como um resmungo, do teu jeito de arrumar o pouco cabelo que tinha, do teu perfume, da gargalhada meio encabulada, quase contida; de quando você roubava comida nas panelas... Você não era perfeito. Não tinha muita paciência de repetir as coisas. Era muito na sua e era quase impossível desvendarmos o que se passava debaixo da redoma que você criava em torno de si. Você era um mistério. Mas era sobretudo um irmão. Alguém com quem se podia contar sempre. Generoso, honesto, trabalhador, inteligente,digno, um lutador. Até o fim, um lutador.


A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

  1. Oi Prima!
    Obrigado pelo carinho!
    Ja virei teu seguidor tbem!
    bjao!
    Saudades!

    Guto

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